terça-feira, 4 de junho de 2013

AGRICULTURA - DO SONHO AO PESADELO - SUPERSAFRA PODE SE TORNAR UM PREJUÍZO BILIONÁRIO.

Do sonho ao pesadelo. A grande safra de café, que mesmo em um ano de baixa produtividade manteve uma produção quase idêntica ao ano de alta, pode se transformar em um enorme prejuízo.[...]
As perdas podem chegar a R$ 130 a saca, dependendo da região de produção, apesar da fixação do preço mínimo de R$ 307,00 a saca de café.
Somente em Minas Gerais, Paraná e São Paulo, caso toda a produção do grão arábica deste ano fosse vendida pelo preço sugerido pelo governo federal, o prejuízo somaria R$ 1,5 bilhão. Com isso, especialistas do setor sugerem que a expectativa de um crescimento excepcional da produção em 2013 não deve mais se concretizar. No total, a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab) espera uma safra de 36,2 milhões de sacas de arábica e de 12,3 milhões de sacas de robusta.
“A lei da oferta e da procura é terrível”, diz Nathan Herzskowicz, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Para ele, há um descasamento entre a oferta do grão arábica — o de maior qualidade — e o efetivo consumo, o que está deprimindo o preço do café no mercado internacional. “As cotações voltaram para o patamar de cinco anos atrás. Enquanto deveríamos estar comemorando uma redução de apenas 5% na produção este ano, estamos preocupados com as finanças dos produtores”, afirma.
Como o Brasil responde por 33% da exportação mundial de café, uma “supersafra” influencia negativamente os preços. “A expectativa no mundo é de que sobrará café. Em 2011, a demanda estava maior e os preços explodiram. Agora, em 2013, está acontecendo o contrário”, argumenta Herzskowicz.
O presidente da Abic teme que os produtores reduzam os investimentos na próxima safra, de alta bienalidade. “Toda vez que o preço cai, produtores reduzem seus custos com fertilização, maquinário, entre outras coisas. No final do processo, a produtividade cai e os preços se reequilibram”, afirma. “Não dá para prever se cairá a produção, mas não será tão grande quanto imaginávamos”, conclui Herszkowicz.
Para a Conab, os preços dos grãos estão fora de equilíbrio. Enquanto o de melhor qualidade não alcança nem o custo de produção, o de pior tem um prêmio de até 60%. Segundo Jorge Queiroz, analista da Companhia, empresas americanas e europeias estão aproveitando a diferença entre os preços dos grãos, que hoje é de 20%, para baratear a mistura de suas bebidas e assim aumentar as margens. “Eles estão aumentando o percentual de robusta no produto. Isso está provocando um desequilíbrio”, diz. 
Queiroz afirma que, atualmente, existem mais fatores que favoreceriam uma valorização dos grãos do que o contrário. Além das novas misturas com maior teor de robusta e menor de arábica, especuladores estariam se aproveitando da queda de preço da commodity. “Não há fundamentos de mercado que sustentem um valor tão baixo para o café. No médio prazo, imagino que os preços, principalmente os de arábica, terão uma reação”, diz.
Para evitar o prejuízo, os cafeeicultores devem segurar a produção, diz Diogo Metzdorff, analista da
Safras e Mercados. Após conversar com produtores, Metzdorff acredita que eles estocarão o possível para esperar uma alta nos preços. “Eles estão aproveitando algumas variações no mercado. Se o preço sobe um pouco, vendem. Mesmo com preço mínimo, eles vão segurar as vendas”, afirma.
Com uma previsão de exportação de 31 milhões de sacas este ano, o mercado internacional deve ajudar os cafeicultores a empatar o jogo, ao menos. Com preços mais próximos ao custo de produção, embora agricultores de São Paulo e Paraná continuem perdendo nessa equação, as vendas para o exterior devem ganhar a preferência dos produtores.

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